sexta-feira, 5 de março de 2010

Macabéa

A reação dela veio de repente inesperada: pôs-se sem mais nem menos a rir. Ria por não ter se lembrado de chorar. (... ) Ficaram rindo os dois aí ele teve uma intuição que finalmente era uma delicadeza perguntou-lhe se ela estava rindo de nervoso Ela parou de rir e disse muito, muito cansada: Não sei não..." Macabéa procurou permanecer como se nada tivesse perdido. Não ficou triste nem desesperada: "ela era crônica". "Ela se mexeu devagar e acomodou o corpo em posição fetal. (. ) Era uma maldita e não sabia. Agarrava-se a um fiapo de consciência e repetia mentalmente sem cessar eu sou, eu sou. eu sou. Teve uma úmida felicidade suprema, pois ela nascera para o abraço da morte. (.. ) Um gosto suave, arrepiante, gélido e agudo como no amor. Seria esta a graça a que vós chamais Deus? Sim? Se iria morrer, na morte passava de virgem a mulher. Então ela pronunciou uma frase que ninguém entendeu: "Quanto ao futuro." Vomitou um pouco de sangue’ Estava enfim livre de si e de nós. (...) Viver é um luxo. Pronto, passou." A morte a fez atingir seu objetivo: essa foi "a hora da estrela".. De qualquer maneira, e apesar dos pesares, ou apesar do encontro marcado com o crepúsculo, a moça experimentou a antevisão da aurora - "a cartomante lhe decretara sentença de vida" e ela era ‘uma pessoa grávida de futuro". PS: Junto ao sangue de sua cabeça, nas pedras do esgoto, estava vivo um tufo de capim verde. trechos de: www.vestibular1.com.br/revisao/hora_estrela_clarice_lispector.doc

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